26 maio 2006

Começando do meio, para por fim

Engraçado! Quando a gente se propõe a fazer um blog quanta coisa temos pra contar: nossas ações, problemas, emoções, aventuras... E quanta coisa muda. Nosso cotidiano (infinito e particular), vira história, disponível a todos. E nesta sexta-feira, mais um dia de chuva em Salvador, apesar te ter alguns desafios para superar, percebi uma deficiência minha: nunca escrevi uma poesia de verdade. Nunca me dediquei a isso. Não sei porquê... Talvez por falta de sensibilidade para pô-las no papel. Talvez por que os poetas que gosto e admiro me tolham a vontade de fazê-las. Na minha opinião, poesia é pra inquietar. Pra fazer pensar e não para endeusar os seus autores.

O poeta é aquele que transita entre o ópio da criação e a verve da inspiração. Voltado inteiramente para dentro de si, ele passa a expressar suas preocupações existenciais – o destino da humanidade, os desencontros amorosos, o amor, a solidão, a morte... Para ele, o poeta, o sentimento de mundo jamais é estéril, pelo contrário, são agentes catalisadores de um sentimento maior. O poeta não é frio como acontece com outras “profissões”, nem metódico, nem hermético como um dicionário. Ele apenas faz do oficio de escrever uma coisa maior... A idéia é exorcizar seus delírios e, por isso, eternizar ao mundo seus sentimentos.

Aguçar os sentidos. Sentir a vida pulsar e recriar o ritmo, a forma, a cor. Sentir as palavras e expulsá-las do silêncio. Criar. Escrever com o corpo todo. Partindo deste principio, de toda essa definição poética que criei agora, vou tentar me dedicar mais a este estilo literário, apesar de preferir os contos. E confesso que não há nada melhor do que ser homenageado com uma poesia. Isso sim, não tem preço. É a imagem que recriam da gente, baseado em vivência, interpretações pessoais, sentimentos. E nos faz pensar, tentar aprender com isso.

Essa aí embaixo foi feita pra mim, e eu adoro... Faz referência a tudo que gosto: sutilezas, metáforas, criação e à minha escritora favorita - Clarice Lispector.


Começando do meio, para por fim, você e eu

Clarisse me trouxe a pergunta que ainda não havia formulado
Trouxe-me na sua resposta
Eu finjo que não te namoro
Só pra depois ter o susto de nos ver enamorados

Esta brincadeira de mentira compartilhada ainda virará verdade?

Serei um parque de diversões quando crescer
Só pra transformar em verdade cada jogo de imagens e sons
Te levar pra longe daqui e perto do ócio

Mas tenho medo
Medo da quebra do encantamento
Medo de como a minha poesia pode te afastar de mim

Fico a buscar o lucro gerado pela poesia
Uma sedução literal de querer falar do amar
Desconstruir para ter o encontro
Afinal, o ser amável está na busca, na procura

Sedução? Não a nego
Meu nêgo você já é dono dela
Segue decodificando o meu saber, truncado
Uma linguagem que só a ti cabe decifrar

Já conheço a mim mesmo, por isso me devoro
Por isso não devo mostrar-me a ti
Mas sou inocente
Inocente da culpa de te amar
Permita-me que eu faça poesia, que alcance a catarse
Mas aqui já não há inocentes

A moral que vale é a ética que divido contigo
O encantamento que terá é do Mestre dos Magos
Da bruxa, se preciso for
Feitiço dos tempos modernos...

Meu interesse é pelo belo
A felicidade? É clandestina
O sol branco é o hélio que me come

Nego o abandono mas, é ele que destroça meu peito
Mas é ele também que gera antropia
Essa manifestação orgânica do meu consciente é meu vício

Mastrar-te essa poesia será como a minha eutanásia
Lê-la, então, trará o vira-mundo
Deixará as nossas vidas sob a Terra
Fará o sol nascer aqui e agora

Não quero te libertar desse amor, ele alimenta minha lírica
Quero a sua voz, rindo, lendo, contando histórias
Quero-o meu herói, meu mestre
Ensina-me a deitar com a poética das letras

Ser...

3 comentários:

Renata Almeida disse...

Morta de inveja...Vc tem um poema feito pra você?? Muito fino!!!!!rsrsrs
Além de todas as definições que você deu, acho que escrever, principalmente um poema requer alma. Técnicas para não romper o que já foi postulado, mas alma para ser único e verdadeiro.
Acho que você a tem.
Um beijo amigo!

Biu disse...

Net lenta, dia chuvoso, sem nada para fazer...
Tudo chato hj!
E continua escrevendo, faz bem!!
Bjoss

Anônimo disse...

Amigo!!! Seus textos tem sido uma boa terapia... rsrsrs. Estou amando!!! Eu também nunca escrevi poemas... sinto que falta o dom, como diz Rê: "a alma", mas vc está melhor do que eu, porque também nunca recebi um poema de presente... rsrs. Lindo este que escreveram pra vc!!! Quem? rsrsrs. mistééééério... Beijos