24 maio 2006

Um martelo, o cinema, a religião e a morte...


No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde: "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos". "Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango. Emocionante! Esta pequena cena é o momento mais marcante do filme. Mágica do cinema! Como diria Emanuela Yglesias nas aulas de audiovisual, é o plot-point da narrativa cinematográfica. Brilhante!

Só que a vida, para ser mudada, às vezes precisa de mais. Outras vezes não, o que temos basta. E não precisamos ser cegos para mudá-la, mas nem sempre essa mudança é benéfica. Deve ser uma mudança pensada. Fiquei chocado quando li sobre a morte da baiana Carla Souza, de 37 anos, e seu filho Caíque, de 11 anos, que viviam há mais de dez anos nos Estados Unidos. Ambos assassinados com golpes de martelo por Jeremias Bins, marido de Carla e também brasileiro. Será que ele quis dar uma mudança sem volta à sua vida? Às vezes fico imaginando o que pode motivar um crime passional. Matar por matar? Prazer? Desespero? Carma? Dívidas da alma? Morar no Brasil favorece? E quem mora nos EUA? Confesso que o jornalismo investigativo e policial é um dos que mais me excitam profissionalmente, mas, não consigo deixar de me surpreender quando assisto ao noticiário ou leio a página policial de um jornal. A fraqueza humana está toda ali...

Enquanto a imprensa baiana se esforçava ao máximo para encontrar os parentes de Carla – descobriu-se depois que ela era de Feira de Santana – as opiniões e sugestões para o motivo do crime foram muitas. E os incansáveis jornalistas, sempre lá, coitados, como abutres atrás da caça, correm atrás de dolorosas declarações de familiares. Estes, por sua vez, ouvem pela televisão que seus familiares estão mortos, desfigurados a golpes de martelo. Desfaz-se sonhos... Casada há dois anos com Bins, com certeza ela acreditava na felicidade. Mudou de cidade, aprendeu outra língua, conviveu com outra cultura... Mas, seu grande "defeito", aliás, dela e do seu filho, era a religião: eles freqüentavam a igreja Mórmon! A polícia local informou que Jeremias – católico –, matou os dois por não gostar da religião que praticavam.

Fico então imaginando: católico fervoroso, mesmo morando nos Estados Unidos, país que não tem tradição católica... Como foi capaz de uma atitude bárbara deste tipo, clara intolerância religiosa? Tempos modernos... Imagina se ele está morando na Bahia? Será que se escandalizaria com as ações, atitudes e sincretismo do Padre Pinto? Parece roteiro bizarro de filme, que pode muito bem ser americano...

Um comentário:

Biu disse...

Muito grande esse texto, mais tarde eu leio. Fazendo TCC para entregar segunda!! Tou lascada!
bjocas e até mais!