01 junho 2006

Para um amor no Recife ou dignitati

Prometi pra mim mesmo que, durante estes dias de greve, não iria dedicar nenhuma linha do meu blog ao assunto... Quero falar sobre isso, sobre a mudança na rotina, os transtornos... Mas quero falar sobre isso depois! Agilidade jornalística aqui não é fundamental! Outro dia estava questionando o que é dignidade. O dicionário me trouxe uma resposta impessoal: “dignidade deriva do Latim, dignitati. Cargo que confere ao indivíduo uma posição graduada. Autoridade moral, honestidade, honra, respeitabilidade”. Respeito a si mesmo? Amor próprio? Logo me veio outro questionamento: dignidade tem preço? Para mim, e entre os meus, claro que não! E olha que não costumo me enganar facilmente com as pessoas. Descobri que para outras pessoas, ela tem preço, tem vencimento e é de longa distância. Calma, este post não é para você, desavisado, que está lendo meu blog agora. Este post tem destino certo, endereço, nome e sobrenome!

Como sou um ser racional, pensante e atuante, logo estava me questionando de novo: por que falamos tanto em dignidade? Por que questionamos tanto a dignidade alheia? Sei lá, talvez porque tenhamos medo, respeito, amor solene, reverência... Talvez porque vivemos aprisionados no "Castelo do Barba Azul". Às vezes acho que isso, esse questionamento, funciona como um mecanismo de autodefesa para justificar nossos erros ou os erros dos outros. Nunca os nossos acertos! Uma coisa que carrego comigo é que, para respeitar os sentimentos dos outros, é necessário respeitar os nossos próprios sentimentos e experiências. Não podemos, nunca, nos negar. Para isso, não precisamos ser omissos, nem dissimulados.

Normalmente quando se fala muito em algo, quando exaltamos uma qualidade nossa, que acreditamos ter, existem duas possibilidades: ou somos, de fato, muito bons naquilo, ou deixamos muito a desejar. Coisas que nem Freud explica, aliás, tenta explicar num fenômeno chamado de “projeção”. Coisas da alma... Mas isso é uma outra história... Nem com anos de análise, nem mesmo assim, conseguiríamos ser plenos em alguma coisa. A perfeição só existe nas letras de Renato Russo e Clarice Lispector.

Hoje eu quero mesmo é falar sobre a cidade de Recife... Já me disseram que é um lugar maravilhoso para passear, conhecer pessoas, curtir a noite, viver bons momentos de amor, sexo e traição, enganar... Lugar de encantos, de sotaque carregado, de gente bonita, hospitaleira. De tubarões e instituições bancárias... Recebe muito bem os visitantes! Ao todo, 39 pontes surgem ao longo da cidade, ligando as três ilhas que formam a capital pernambucana – Boa Vista, Santo Antônio e Recife Antigo – ao continente. Imaginem isso... Tentem visualizar esta imagem... Dizem que vista do alto, não nega o título que carrega, o de ser a Veneza brasileira, e olha que falo isso sem mágoa.

E vem de Recife um estilo musical, um movimento que adoro, é o Mangue Beat (ao pé da letra, batida do mangue). E como a música está presente em tudo, tudo mesmo, não poderia ser diferente agora. Este movimento vem da década de 90, e surgiu das ruas e vielas do Recife Antigo para reafirmar a cultura nordestina pelo Brasil. Adoro isso, essa irreverência, esta vontade de mostrar ao resto do país que o Nordeste também é digno. Chico Science e Fred 04, da Banda Mundo Livre S/A, foram os responsáveis e sintetizaram o que acontecia por lá, através de letra e música. Ao maracatu local, foi mesclado o rock. Tradição e modernidade juntas. Global e local propuseram um novo conceito para as coisas. Concordo que dignidade musical também é atitude! E, mesmo distante de Recife, sei o que acontece e aconteceu por lá...

Registros à Meia Voz - Pensei em postar hoje uma música do Chico Science mas, esta conseguiu sintetizar meu sentimento agora e deu razão a este post. Para um amor no Recife é uma música do Paulinho da Viola que adoro. Conheci essa música em 1998, no CD Registros à Meia Voz, de Marina Lima. Neste disco, ela canta magistralmente a composição do sambista, apesar de, nesta época, estar com a voz debilitada, comprometida por causa de uma depressão. Como conseqüência, gravou em estúdio um disco que seria ao vivo e ficou seis anos longe dos palcos. A música vale por tudo: pelo registro, pela letra, vale pela emoção da cantora, pela dor do compositor, pela interpretação. É uma música visceral... Vale principalmente pelo esforço que ela deve ter feito ao cantar, ao gritar pro mundo uma letra assim, tão forte e contundente, mesmo doente da alma.


Para um amor no Recife
(Paulinho da Viola)

A razão porque mando um sorriso
E não corro
É que andei levando a vida
Quase morto
Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue
E sepultar bem longe
O que restou da camisa
Colorida que cobria minha dor
Meu amor eu não esqueço
Não se esqueça por favor
Que eu voltarei depressa
Tão logo a noite acabe
Tão logo esse tempo passe
Para beijar você

7 comentários:

Anônimo disse...

aDignidade hoje em dia tá virando artigo raro. Acho que na vida podemos perder tudo, menos a dignidade. Concordo quando vc diz que para outras pessoas, ela tem preço, tem vencimento e é de longa distância. É triste, mas a cada dia o número de pessoas que pensam e agem dessa forma aumenta assustadoramente. O individualismo, a falta de solidariedade, falta de respeito ao próximo contribuem diretamente para a banalização da dignidade.

Anônimo disse...

Pronto: alguma coisa diferente...
Bjo e tchau!

Anônimo disse...

Muito bem, muito bem Senhor Jornalista!Parabéns! Gostei dos textos, como sempre, vc manda bala! Agora que te achei, vô vim sempre aqui... Pelo mesnos vou tentar! Rs... Ah, e eu adoro Foguinho, viu?

Anônimo disse...

Dignitati - Até aonde vai a nossa. Lembra do filme com Demi Moore. Quando ela se vende por 1 milhão de dólares, sei lá 1 bilhão. Fico a perguntar, não é melhor resposta fazer com que essa "alma sem direção", reflita sobre dignitati. Não é o caso da personagem do filme. Gosto como você conduz suas linhas, com frases poéticas e de sabedoria. Parabéns, Marcos Sales.

Anônimo disse...

Eu sempre leio e deixo pra comentar depois, mas esse merece um registro... Dignidade? Como pode ser comprada ou vendida? Não acredito nisso, ou tem ou não tem... não sei se existe a possibilidade de deixar de ter... Lembrei de uma piada que diz assim:
Um executivo muito bem vestido estava no avião quando, de repente, chegou uma "linda mulher", maravilhosa e muito bem vestida. O homem encantado perguntou:
-Vc aceita dormir comigo essa noite por um milhão de dólares?
Prontamente a mulher respondeu:
-Sim, aceito.
O homem rebateu dizendo:
-então vamos dormir comigo por R$ 200 reais?
A mulher irritada perguntou:
-Vc está pensando que sou alguma puta?
Ele sabiamente respondeu:
-Isso vc já me respondeu na primeira pergunta, agora é só uma questão de negociação...
rsrsrs. Claro que tudo é relativo, até mesmo o preço da dignidade, mas se ela pode ser pode ser vendida ou comprada o que podemos concluir é que todo o resto é uma questão de negociação... rsrs. Beijos

Anônimo disse...

É Marquinhos...

Dignidade já virou banana na boca de muito macaco, maquiavélico, maluco, malandro, matusalém! Gosto dessa palavra, de saboreá-la...Dig...ni...da...de. Sinto que digno é um fator de "pertencimento"; pelo menos, sintonizo com aqueles que fazem o bem, que falam no bem, que pensam no bem. sinto-me fazendo parte, pertendendo a essa prole, que por sinal parece anônima. O digno para mim é o justo, mesmo quando este parece injusto, porque verdadeiro, diz e pronto. sabe que apesar de ferir, às vezes o ferro em brasa é o melhor lenitivo para determiadas feridas, recalcitrantes...O digno é atraente. Tem esse poder, mas ao esmo tempo repulsa. Mas só têm este sentimento em relação a ele, aqueloutros que se assoberbam com a própria sobra e que, como você mesmo acentuou: "pensam que são a última linha de tinta preta do tonner". Viva a Dignidade!!! Evoé, os Dignos de coração e mente. Grande abraço. Gerald

Anônimo disse...

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