07 março 2008

Clarices

A cidade estava estranha naquele dia. Acho que eu estava estranho... Tive sensação parecida outro dia: para mim, uma nuvem prestes a explodir; para outros, energia e inércia juntas... E isso pairava sobre tudo. Esse tudo dava sinais às conversas, aos gestos, aos segredos.

Lembrei dos olhares. Pessoas comuns na mesma sintonia. Lembro que ela ganhou uma flor. E ela (a outra), sensível, percebeu as sutilezas e insistia em dizer que existia algo a ser resolvido. Concordei com ela, fiquei intrigado e agradeci. Coisas que são ditas, pessoas sensíveis, mensagens incertas para destinos mais que certos. Coisas que precisava ouvir com atenção, especialmente naquele dia. Outras tantas coisas pra resolver.

O anel (dela) mudou de cor, sem motivo. A flor (da outra) murchou. O dia chegou iluminado e indiferente. Tive crise de insônia, depois de sonambulismo.

Antes, do outro lado, ouvi a multidão gritar.

Um lustre tentava iluminar as idéias...


Lembrei de Clarice:

“Ela era fluida durante toda a vida. Porém, o que dominara seus contornos e os atraíra a um centro, o que a iluminara contra o mundo e lhe dera íntimo poder foi o segredo”.

Fechei o livro! Deixei cair algumas cincas sobre Clarice e voltei a ler, cheio de gratidão.

3 comentários:

Geraldo Francisco disse...

Marcos


Lispector é para poucos: para aqueles que sabem tocar e sentir as palavras...ás vezes esmagando-as pelo sentimento de verdade que elas transferem, noutras, alisando a sua borda, consentindo com suas estranhezas...

Você é um dos poucos...Graças a Deus!!!

Abçus


Geraldo Francsico

Anônimo disse...

Minha obra de arte - repito: lindo e misterioso,

Eu tb quero ser uma Clarice na sua vida. Eu sou uma Clarice na sua vida, a bem da verdade : Clara e pequena. Clarice, portanto. Uma criança cujo anel muda de cor quando o sorriso aparece ou quando ele se esconde.
O meu anel, o anel da criança Clarice sempre muda de cor quando eu estou com vc.
Muda pro amarelo, pro amarele, (essa cor tão linda, mistura de rosa com azul!) muda POR (ele) amar-ela...

Sua escrita é linda. Eu não sou a outra (a da flor),sou a "uma" (a do anel mágico), mas se vc escreve, eu (te) leio tb...

Um beijo, meu lindão!
Te adoro mais do que roska de morango! hehehe =P

Clara.

Anônimo disse...

Nêgo,

CL é o máximo!!! Adriana também. Gostei do conto (é uma metáfora real ou uma verdade inventada?). Lembra quantas discussões isso já deu? Por falar nisso ouvi "um dia desses". Pirei! Lembrei de vc na hora. Será? Veja aí. Não some não. Agora, mais do que nunca, acho que não. Ai, ai viu. Bjo,


Um dia desses (Adriana Calcanhotto)

De tanto me perder, de andar sem sono
Por essa noite sem nenhum destino
Por essa noite escura em que abandono
Os sonhos do meu tempo de menino
De tanto não poder mais ter saudade
De tudo que já tive e já perdi
Dona menina
Eu me resolvo agora ir me embora
Pra bem longe e daqui
Um dia desses eu me caso com você
você vai ver... Ai, ai... você vai ver
Um dia desses de manhã com Padre Pompa
Você vai ver como eu me caso com você

Meu pobre coração não vale nada
Anda perdido, não tem solução
Mas se você quiser ser minha namorada
Vamos tentar, não custa nada
Até pode dar certo... Ai, ai
E se não der eu pego um avião
Vou pra Shangai e nunca mais volto pra te ver...