25 maio 2009

Chá verde

Eu tento evitar
Liguei a tevê
E deitei no sofá
Desde que haja tempo pra sonhar
E assuntos pra desenvolver
Não é muito fácil desligar
Me dá pena do meu chinês
Por ele eu passava o dia inteiro
A meditar
Bebendo chá verde ele me diz:
"Fica feliz que vai funcionar"
Mas eu tô feliz,
Eu juro pelo meu irmão
O saldo final de tudo
Foi mais positivo que mil divãs
Por isso que não adianta
Querer julgar
É cada um por si
Na sua
Própria bolha de ar
Mas o que eu penso mesmo
É encontrar alguém que me dê carinho e beijo
Me trate como um nenêm,
Me trate muito bem
Ah, eu só quero amor
Seja como for o amor
Seja bom, seja bom,
Seja bom, seja amor
Me faz mais feliz
Me dá asas pra fluir
E cantar o amor

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15 maio 2009

Conversa do dia

– Muito bom o texto do medo...
– Gostou?
– Se gostei? Maravilhoso! Parece que eu mesmo escrevi.
– Tocou minha emoção com rara felicidade.
– Mas nós somos um... Conheço sua alma...
– Queria saber que interpretação o mundo daria.
– Assim vc me deixa envaidecido
– ?
– Somos um aprisionado em dois
– Gostei do aprisionado...
– Não consigo escrever um conto infantil, por isso acrescentei esse final para a Casa Azul: “Todavia, no mesmo quarteirão da Casa Azul existia uma ampla e arborizada Casa Verde e uma outra família que passava pelos mesmos problemas que a família da Casa Azul, mas por uma fatalidade ou destino incerto faltava para aquela família a presença de um anjo, a figura da criança. Com isso, na Casa Verde não se fez alegria e tão pouco floresceu lindas margaridas igual as da Casa Azul”.
– Gostei muito! Me lembrou um outro trecho: "Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí? Eu adoro voar!"
– É seu?
– Meu? Quem dera... É de Clarice.
– Lispector?... mas sua verve tem muito de Clarice...
– Não tenho mais verve. Já tive, um dia... Quem sabe num outro dia, à toa, ela chega devegar, com malas e tudo, pra nunca mais voltar... pra ficar pra sempre...
– Não sei porque essa preguiça agora, de extirpar, de dentro da sua alma, a sua loucura...

Lembrei de uma letra do Caetano, O Amor:

Talvez quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa
Eles a ressuscitarão
O Século Trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estrelar das noites inumeráveis

Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
De sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai seja pelo menos o universo
E a mãe seja no mínimo a Terra
A Terra, a Terra