Tenho as mãos atadas ao redor do meu pescoço
Eu queria mesmo era tocar seu corpo
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos e depois?
Depois toco meu corpo eu tenho frio
Sou um louco amargurado e até vazio
E me chamam atenção
Mas eu sou louco é de paixão e você?
Você que me retire desse poço
Eu sei ainda sou moço pra viver
E te ver assim tão crua
A verdade é toda nua
E ninguém vê
Eu tenho as mãos atadas sem ação
E um coração maior que eu para doar
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos sem querer
Eu quero é me livrar
Voar
Sumir
Perder não sei, não sei querer
A qualquer hora é sempre agora chora
Quero cantar você
Vou fazer uma canção liberte o meu pensar
Aperte os cintos pra pousar
Agora é hora de dizer muito prazer sorte ou
azar e amar
Simplesmente amar você
16 agosto 2007
18 janeiro 2007
Saudades de Elis
De Pimentinha a Furacão, sua voz ecoa ainda hoje...
Por Marcos Paulo Sales
Deusa, insuportável, tranqüila, invejosa... Elis Regina Carvalho Costa viajou entre esses adjetivos, criticou, falou muito, deixou para a posteridade frases marcantes e o seu canto potente e visceral. Um turbilhão de emoções que, ao mesmo tempo, mostrava-se frágil, dócil, delicada e feminina. “Furacão Elis” (Editora GLOBO, 3ª edição, 239 páginas), um livro especial, ou melhor, um quebra-cabeças, que, ao passo da leitura, faz surgir uma mulher contraditória e uma artista brilhante. Narra desde a infância até a morte por overdose, a história dessa mulher com “um dom, uma certa magia”, das mais brilhantes, expressivas e explosivas cantoras brasileiras de todos os tempos. “Seu pingue-pongue de ódio e paixão enlouquecia quem buscava nela alguma coerência”, assim define a jornalista e autora do livro, Regina Echeverria.
Dividido em doze capítulos, a obra traz vários depoimentos de ex-maridos e namorados, colegas de palco, inimigos, produtores musicais, críticos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, a mãe e o irmão Rogério, entre outros que conviveram com ela – bem ou mau, de forma harmoniosa ou não. Tem ainda uma vasta seleção de fotografias que resgatam cada etapa de sua vida, além, é claro, de toda a discografia da cantora em long-plays.
Regina Echeverria apresenta os dados e fatos da vida da cantora de forma cronológica: começando por sua infância e a adolescência em Porto Alegre – onde estreou no Clube do Guri, onde permaneceu por alguns anos e também gravou o seu primeiros LP´s cantando rock´s e calipsos. Sua passagem pelo Rio de Janeiro, onde viveu momentos gloriosos, a ida para São Paulo onde fixou residência e suas incursões mundo afora, culminando na sua morte por overdose nesta ultima cidade chocando e comovendo todo o Brasil, além do fortíssimo traço psicológico que acompanha o leitor durante a leitura.
“Furacão Elis”, que é marcado por depoimentos, apesar de ser bem linear e coerente com os dados apresentados, tem-se a impressão de que a sua argumentação deixa uma ponta de dúvida no leitor quanto a quem era realmente esse Furacão. São vários olhares sobre o mito “Elis Regina”, de ângulos variados e opiniões diversas, marcado pelas impressões que outros tinham a seu respeito, sobre sua vida, sua carreira ou suas atitudes – quase sempre polêmicas. Existe ainda um fato, acredito, ter sido prejudicial ao andamento do livro. Autora e cantora eram amigas, tornando que a posição de fã do trabalho da cantora algumas vezes interferisse nas argumentações do livro-reportagem.
Um aspecto interessante da obra e que, provavelmente, marcou profundamente a vida da interprete nos remete à sua infância: Elis foi criada sobre forte influência de sua mãe, dona Ercy, extremamente austera e decidida: “Dona Ercy mistura ódio e amor numa velocidade quase tão rápida quanto a que costumava ter sua própria filha”, escreveu a jornalista.
“A família não era mesmo chegada a paparicos. Naquela casa gaúcha pegar no colo só quando estivesse com sono e olhe lá”, complementa. Será que reside aí a explicação para existirem tantas Elis? Descobrimos uma menina com a emoção e a dor do tamanho da sua voz. Determinada e perfeccionista, decidiu que cantaria para o mundo, que tinha que ser a melhor. E assim foi!
Pedro Camargo Mariano, filho de Elis Regina, em entrevista a um site em 23 de dezembro de 2002 deu a seguinte declaração: “Para ser sincero, nem li, propositadamente. Mas quem leu me contou que há uma série de fatos errôneos, absurdos, de mau gosto. É preciso deixar uma coisa clara: morre o mito, mas sobrevive o ser humano. Quanto a biografias, ninguém mais se prontificou, talvez por acreditarem que a da Regina Echeverria, que escreveu aquela lástima (segundo Pedro Mariano, seu pai, César Camargo Mariano, sequer foi consultado), é definitiva. O que é uma bobagem”, declarou.
Saindo de Porto Alegre (1964), Elis encontrou um Rio de Janeiro com toda instabilidade política trazida pelo Golpe Militar, que ela chamava de “rolo compressor”: “Não se tinha a dimensão da ditadura que seria preciso enfrentar...” Ela enfrentou... Cantou o Hino Nacional nas Olimpíadas do Exercito, uma contradição... Foi criticada... Criticou o governo militar e quase foi presa... Ganhou do amigo Vinícius de Moraes o carinhoso apelido “Pimentinha”. Apresentou programas na televisão e teve um dos maiores salários já pagos a um artista brasileiro. Uma ascensão meteórica!
Antes de todo este furacão de acontecimentos, Elis cantou em diversos bares até ganhar notoriedade, entre eles, o famoso e consagrado Beco das Garrafas, palco que abrigou o surgimento da Bossa Nova no Brasil. Incansável na busca quase obsessiva pela perfeição – segundo o livro, esta busca se acentuou, provavelmente com o uso da cocaína – “ficava insuportável antes de entrar em cena. A mesma insegurança, o mesmo medo de errar, a mesma fobia de não ser perfeita...”.
Ela fez e refez gravações, mudou arranjos, contratou os melhores músicos e produtores... Trabalhou a voz com aulas de canto, foi acusada de excessivamente técnica, puxou nos erres para virar carioca, cantou em inglês, aprendeu francês... E, quando a critica apostava num provável fracasso, ela, assim como a mitológica Fênix, ressurgia, emplacava e ia acumulando novos hits: Fascinação, Arrastão, Atrás da Porta, Alô, Alô, Marciano, Madalena, Como nossos Pais, Águas de Março, O Bêbado e a Equilibrista, Quaquaraquaqua, Dois pra Lá, Dois pra Cá, Maria, Maria. Morreu implacável e insubstituível – ainda hoje segundo críticos – em seu estilo, misturando de forma harmoniosa emoção e técnica.
É revelada também, no decorrer do livro, uma Elis generosa, mãe e dona de casa zelosa, amiga e uma cantora insegura – muitas vezes não reconhecia o seu próprio valor – além de ser um ser humano com uma capacidade brilhante de pensar, aprender com facilidade e cantar como ninguém. É um livro indispensável para os fãs, para quem gosta de música, de uma leitura empolgante, da historia da MPB e quer aprender um pouco mais sobre a eterna Elis Regina.
O livro reflete, com rara felicidade, a riqueza e a forma muito complexa, que jamais poderá ser reduzida ao simplismo do “gosto ou não gosto”, e de como uma grande personalidade afeta, sem jamais saber a extensão, a vida de tantas outras pessoas no mundo.
"A vida mexeu muito comigo, me fez sofrer muito. Fui dessas pessoas que apanhou e aprendeu com a vida. O que me valeu foi essa minha maneira forte de ser."
Elis Regina
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